Perguntas Frequentes sobre Agilidade

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Em Julho deste ano, após o mini-curso que dei na Globalcode sobre Scrum + XP, uma das pessoas presentes, meu amigo Orlando, anotou diversas perguntas sobre Agilidade no formato de entrevista e pediu que eu respondesse por email.
Segue abaixo algumas perguntas que achei interessante, e resolvi publicá-las aqui no blog.

O que é ser ágil nos dias de hoje?

Acho que ser ágil nos dias de hoje é saber aproveitar as oportunidades de inovação no seu ambiente de trabalho, percebo que a maioria das pessoas acabam ficando acostumadas com a rotina de seus afazeres e perdem chances de inovar.
Quando digo inovar, digo que existem várias maneiras de você introduzir no seu dia a dia práticas ágeis. Outro ponto importante em ambiente ágeis é a comunicação, para ser ágil a pessoa saber lidar com pessoas, com o cliente, e ter um relacionamento de parceria, não pode ter medo de se expor e ser comprometido.
Comprometido não é trabalhar 250 horas por mês no projeto, é saber assumir responsabilidades e saber responder por elas, não ter vergonha de pedir ajuda na hora de uma dificuldade. É velha a história do porco e da galinha =).


Quais os pontos fracos das metodologias ágeis?

O que vejo como um ponto fraco em metodologias ágeis, pela sua própria natureza lean, ou seja, enxuta. É que fica um pouco difícil a sua adoção em ambientes que haja modelos de governança de TI como o Cobit, por exemplo. É difícil em um ambiente de Governança "certificado", você justificar para o gerenciamento de projeto o uso apenas de quadros e post-its, entende? Isso eu digo principalmente com Scrum e XP.
Neste tipo de cenário, a empresa tende a escolher modelos híbridos baseados no PMBook e RUP. O que no final acabam se tornando processos altamente burocráticos em cascata.
Por isso, que acho que esse é um campo que tem muito a ser explorado, trabalhei cerca de 2 a 3 com RUP, e uma escolha mal feita nos artefatos de projeto acaba comprometendo e muito o rendimento da equipe
Outro ponto fraco é o próprio agilista, que tende a pensar que é o dono da razão, pois a verdade é que Barry Boehm já falava da importância dos métodos iterativosque vieram bem antes do movimento ágil ).

Quando não usar?

Bem, independente do lugar que você esteja é muito importante praticar, aplicar os valores do Manifesto Ágil.
Eu não consigo enxergar o uso de métodos ágeis em projetos de implantação de ERP (pacote comprado), principalmente quando a implantação é feita em grandes empresas com diversas filiais. Geralmente, as empresas fornecedoras deste tipo de software já possuem métodos próprios.
Outra ponto, é se a sua empresa desenvolve software e seu cliente esta feliz, o desenvolvedor esta feliz, os projetos estão sendo entregues no prazo, o ROI esta dentro das expectativas, o Time-to-market do seu produto é baixo e a equipe é produtiva, se neste cenário você já não estiver usando ágil, fique onde está.
Se o seu processo de desenvolvimento esta atendendo plenamente você e seus clientes, então não mude. Você já esta no caminho certo.

O que mais dificulta a implantação de uma metodologia ágil numa empresa atualmente?

Com certeza o que dificulta a implantação de métodos ágeis nas empresas é a própria filosofia de desenvolvimento da empresa. Por requerer uma mudança radical na forma de lidar com o desenvolvimento de software, é difícil alcançar uma plenitude na implementação de métodos ágeis e isto pode afetar sua adoção, é difícil as pessoas envolvidas na definição de processos da empresa admitirem que estavam fazendo algo que é não muito produtivo, e que a maneira que elas desenvolvendo software não é a melhor.
Outros pontos que dificultam a implantação de métodos ágeis, ainda alinhado ao primeiro item é a falta de um sponsor, como um diretor, ou outro cargo executivo, se agile não está "vendido" para a alta cúpula da empresa, então pode haver muita resistência por conta da própria TI.
E por fim, a falta de comprometimento da equipe e a falta de conhecimento em métodos ágeis podem dificultar também a implantação.

Só serve para projetos? E a manutenção do sistema?

Agile proporciona um leque bem variado de métodos, entre eles FDD, Scrum, XP, Lean, Crystal, entre outros. Eu diria que os dois caminham juntos, a questão gira em torno de como você irá administrar e classificar os itens em seu backlog.
A partir do momento que um release do seu produto entra em produção, é natural que novas demandas e até bugs apareçam. Tem empresas que separam equipes para atuar somente em projetos de manutenção e outras equipes para trabalhar somente em projetos de evolução, depende tudo de como o trabalho é priorizado.
Para áreas de serviço, como Infraestrutura, onde a atuação das equipes geralmente é feita sob demanda, é recomendado o uso de quadros Kanban, inclusive atualmente estou fazendo um trabalho neste sentido (Quadros Kanban para áreas de Infraestrutura).

E a arquitetura do sistema, como fica?

Essa é uma questão polêmica e que gera muitas dúvidas para quem está iniciando no mundo ágil, principalmente para as pessoas que estão em transição de um método como o Waterfall para o Ágil.
Quando o time de desenvolvimento vem do Waterfall ou até mesmo do RUP, que é um método que descreve os artefatos necessários para se documentar a arquitetura do projeto e propõe um modelo "big design up front", ou seja, força o time tentar imaginar e fechar todos os modelos no inicio da execução do projeto.
Em processos ágeis isso acontece de forma natural e evolutiva, uma das práticas do XP, o "Simple Design" ou "Design Simples" nos diz para mantermos o nosso design o mais limpo e simples possível, e não tentar imaginar funcionalidades que o sistema possa vir a ter, e preparar o sistema para estes prováveis cenários. Isso foge completamente do modelo ágil de gerir projetos.
Independente do modelo que você segue, o seu sistema obviamente será construída baseada em uma arquitetura, e em toda metodologia é muito importante você fazer o planejamento da sua arquitetura, a diferença é que em métodos ágeis devemos sempre respeitar a maturidade atual do projeto de modo que quando houver mudanças ou adição de novos requisitos do negócio, fique fácil refatorar o sistema, levando sempre em consideração os requisitos de qualidade de serviço (QoS) conhecidos por todo arquiteto,

Como fica o contrato? Não há prejuízos para a produtora, uma vez que o cliente altere constantemente o que foi inicialmente solicitado?

Acredito que não, um dos valores do manifesto ágil diz que a colaboração com o cliente é mais importante do que a negociação de contratos, por que isso? Se olharmos para a maneira como as empresas negociam os contratos de software com as consultorias, veremos que esta é uma eterna luta. Porque as empresas adotam o modelo de "Preço Fixo" e para uma consultoria entrar em uma empresa, ao formular uma RFP ela acaba colocando valores que muitas vezes ela mesma sabe que pode tomar um prejuízo, mas o faz para ganhar o cliente.
Este tipo de contrato é ruim, pois passa a maior parte do risco para o desenvolvedor, se o projeto atrasa, o consultor arca com os custos, o que dificulta (e muito) mudanças de escopo.
Um modelo de contrato que achei muito interessante é o modelo "Money for Nothing, Changes for free" proposto por Peter Stevens em http://agilesoftwaredevelopment.com/blog/peterstev/10-agile-contracts#MFN-cff.

Qual o maior benefício (a longo ou curto prazo) que um funcionário (desenvolvedor, tester, analista, etc.) obtém quando se compromete a seguir uma proposta ágil?

Desenvolvedores geralmente gostam de agile, porque os métodos são voltados para times auto-gerenciáveis. Modelos ágeis dão uma liberdade maior aos membros do time, então acho que o maior benefício é o próprio bem-estar do time. Sem falar dos ganhos da empresa como a melhoria contínua da qualidade, redução do risco de entrega e do time to market, aumento da visibilidade do projeto, entre outros.

Como ser um Scrum Master?

Na minha visão, para ser um Scrum Master é preciso antes de tudo saber lidar com pessoas, isso é fundamental, além disso, precisa ser uma pessoa comprometida e responsável, que entenda os requisitos do negócio e as necessidades do time.
Tem que ser uma pessoa humilde, e que saiba influenciar a equipe de maneira positiva, com uma cultura de colaboração.

Como as empresas do Brasil estão aceitando a XP?

Hoje em dia é moda falar de Agilidade no Brasil, principalmente no meio dos desenvolvedores. O que vejo é que é um assunto muito falado, mas pouco aplicado.
XP tem sido assunto em roda de conversa de desenvolvedores durante muitos anos, e o que acaba sendo feito neste sentido são movimentos individuais de desenvolvedores que aplicam algumas práticas do XP de maneira isolada, principalmente TDD.
Com o advento e a popularidade do SCRUM, pessoas de outras esferas nas empresas estão começando a olhar agile de maneira diferente, e tem havido uma grande aceitação neste sentido, então acho que isso tem sido bom para XP também.

Dê algumas dicas de boas práticas àqueles que estão iniciando (estagiários e estudantes).

A melhor dica que posso dar é a mesma que dou em minhas apresentações quando sou indagado. Que é estudar, e tentar se manter bem informado sobre o que está acontecendo no mercado. É impressionante o que você consegue fazer com os feeds dos websites, busque os melhores sites e agregue-os em ferramentas como o Google Reader ou outro leitor de feed qualquer, isso potencializa muito o conhecimento.
Participe de lista de discussões, veja cases de implantação tanto de sucesso quando de insucesso e buscar ler o máximo que puder sobre o assunto.

Finalize com uma mensagem para aqueles que estão interessados, mas ainda são céticos.

Faça uma prova de conceito, e se possível procure implementar ao menos uma prática ágil. Uma dica que dou é sempre que possível, traga o cliente para o lado do desenvolvimento, se você puder fazer com que seu cliente avalie o produto que você está desenvolvendo semanalmente ou até de 15 em 15 dias, você irá começar a ver os ganhos do desenvolvimento ágil.
Ou ainda, vou ir totalmente contra o que acabei de falar, sempre que olhar para o seu processo atual de desenvolvimento, antes de tentar adicionar qualquer prática ou passo novo (menos a que citei sobre o cliente), exclua uma etapa do seu processo. Monte um gráfico de cadeia de valor dos seus processos, e analise o que você pode excluir de passos do seu processo. Se você fizer isso, você já está no caminho de se tornar um grande agilista!

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